Hoje muita gente recusa convites para trabalhar fora por acreditar ter melhores oportunidades de carreira no Brasil. Veja o que pesar na hora de trabalhar fora.
Até bem pouco tempo, considerar uma oferta de trabalho no exterior era um dilema de carreira para poucos executivos. Hoje, as oportunidades para trabalhar fora do país aumentaram e estão no horizonte de muitos profi ssionais. Os brasileiros, no entanto, fi caram mais exigentes ao avaliar um convite para assumir responsabilidades no exterior. Isso se deve à maior percepção dos candidatos a expatriado de que a experiência tem alto risco de insucesso ou falta perspectiva de futuro no retorno ao Brasil. Segundo um levantamento mundial da consultoria Mercer, que no Brasil tem escritório no Rio de Janeiro, quatro em cada dez funcionários expatriados retornam antes do fi m do contrato. Os motivos são os mais diversos, mas em boa parte dos casos o retorno se dá pela difi culdade de adaptação a outra cultura. Mas há também o aspecto profi ssional, que diz respeito às pretensões de carreira do funcionário.
O administrador de empresas André Rezende da Silva, 30 anos, recusou duas ofertas de expatriação enquanto trilhava a carreira em departamentos fi nanceiros de multinacionais farmacêuticas. A primeira proposta veio em 2005, quando André era coordenador de planejamento de um laboratório alemão e recebeu a oferta para trabalhar no México. “Eu pensava em viver fora, mas o convite representava um retrocesso”, diz ele. O administrador julgou que deixaria de decidir pontos estratégicos para ser um mero consolidador de dados fi nanceiros de fi liais. Além disso, diz André, o salário não era satisfatório e a empresa não garantia qual seria o próximo passo depois da estadia mexicana. “Quando neguei a expatriação, escutei do diretor que tinha acabado de estagnar minha carreira”, diz.
A solução foi mudar de emprego. Quatro meses depois, estava em uma concorrente suíça em um cargo semelhante ao que exercia. Após um ano e meio na função, foi promovido a gerente regional, assumindo um projeto que englobava fi liais do México, Colômbia e Venezuela. Mais uma vez André recebeu uma proposta para sair do Brasil. Desta vez, teria de se mudar para a Venezuela. Estudou cada detalhe da proposta e decidiu recusar de novo. “Não topei e passei a ser fritado”, diz André, que foi transferido para um departamento fora de sua área e passou a responder a um gerente, perdendo a autonomia que já havia conquistado. Vendo minguar suas atribuições, pediu demissão há quatro meses e procura recolocação.
MOVIMENTO COMPLICADO
Segundo especialistas, a expatriação é um dos maiores desafi os na carreira de um executivo. Há ocasiões, mais raras, em que a empresa praticamente obriga o convidado a pedir demissão no Brasil para fi rmar um contrato local, sem garantia de volta ao país. Por isso, o profi ssional precisa avaliar com cuidado as condições da mudança. O índice de expatriações que dá errado é alto: 40% das tentativas são malsucedidas, mostra o levantamento da Mercer. “A difi culdade do cônjuge e dos fi lhos em se ajustar à cultura do país hospedeiro aparece como o maior motivo para a insatisfação”, diz Alberto Mondelli, diretor-geral da Mercer no Brasil, ele próprio um venezuelano expatriado. O especialista recomenda um diá logo honesto e intenso com a família antes de decidir qualquer proposta. “O intuito é verifi - car se todos aceitam acompanhá-lo (ou se vale a pena ir sozinho), já que um dos parceiros possivelmente terá de adiar seus sonhos e a carreira em prol do outro.”
O estudo da Mercer conclui ainda que menos da metade (42%) das empresas garante um cargo para quando o empregado voltar ao país de origem. O mais complicado é pensar que, em muitas organizações, a experiência no exterior é um pré-requisito para continuar crescendo no organograma — ainda que, segundo o Hay Group, consultoria em gestão com escritório em São Paulo, apenas 8% dos expatriados são promovidos ao fi m da experiência no exterior. Por isso, é preciso negociar a volta antes de arrumar as malas. “Tem que fi car claro quais serão as funções no novo país, mas também qual papel o profi ssional desempenhará caso não exista uma posição adequada na volta”, diz Alberto, da Mercer.
Pensando em se desenvolver profi ssionalmente, Luiz Villela Borges, de 31 anos, decidiu trocar o posto de gerente de produto pleno na BDF Nivea do Brasil para assumir há um ano e meio a função de gerente internacional de produto na sede da companhia, na Alemanha. “Mesmo que eu tenha fi cado desanimado em alguns momentos, tenho muito claro que estou realizando algo para conquistar um futuro melhor para mim e para minha família”, diz Luiz. Para enfrentar a adaptação, ele concentrou toda a sua energia no trabalho por três meses. Suas principais difi culdades foram reconstruir relacionamentos do zero e se adaptar à cultura alemã. “Se por um lado somos fl exíveis, nos falta disciplina para pensar a longo prazo e planejar”, afi rma Luiz. “A chave para a boa adaptação do expatriado está em observar humildemente o comportamento das pessoas do novo país”, diz Mônica Longo, diretora de RH da Nivea.
Outra regra importante para se adaptar no exterior é se esforçar para que a experiência dê certo. Assim, se o projeto der errado, você terá segurança para dizer que a sua parte foi feita. É o princípio usado pela bioquímica Cynthia Diaferia, de 33 anos, que ocupa o cargo de diretora de marketing para América Latina da marca Champix (remédio para o tratamento de tabagismo) da Pfi zer, no México. “Esses dias estava com saudade do feijão brasileiro”, diz. “Aí pensei: vou ver o que esse burrito frito tem de bom. E não é que descobri que é gostoso?”.
Fonte: Revista Você S/A
Link: http://vocesa.abril.com.br/desenvolva-sua-carreira/materia/saber-carreira-exterior-497444.shtml
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.