Tenho falado muito, em palestras e com clientes, sobre condução e
planejamento de carreira, dois temas que tem tudo a ver com stress e
qualidade de vida. A abordagem não traz nada de muito novo ou
revolucionário, a não ser uma cutucada forte no tripé
iniciativa/autoconhecimento/disciplina. Vamos a ela.
Acho espantosa a falta de iniciativa de muitos profissionais. Ao
mesmo tempo que aplicam todo seu rigor e tenacidade no trabalho, no que
deve ser feito e entregue, na pontualidade e dedicação profissional,
pouco ou nada fazem por sua vida pessoal e seu planejamento de carreira.
As semanas viram rotinas tediosas de esforço profissional e reclamação
pessoal, sem que se faça muito para mudar, para transformar, para
redirecionar o trabalho, a carreira e também a vida pessoal. Não está
feliz com seu trabalho? Não está aprendendo nada de novo? Tem produzido
pouco ou quase nada que se orgulhe? Sua remuneração está aquém do que
acha que seu trabalho vale (aqui o exercício de bom-senso é ainda mais
importante)? Não se sente sintonizado com seu emprego atual, com o time
com quem trabalha ou a empresa onde atua? Se você respondeu “sim” a
qualquer uma das perguntas anteriores, responda à esta: o que você tem
feito, nos últimos 90 dias, para mudar esta situação?
O primeiro passo é um exercício profundo e verdadeiro de
autoconhecimento, de autoanálise. O que gosta e o que não gosta do que
faz hoje no trabalho é um começo. Mas tem que ser por escrito. Escrever
cria outra dinâmica, pois além de exigir mais reflexão, gera registro e
reavaliação posterior. A partir da constatação do que gosta/não gosta,
comece a pensar (e escrever) sobre o que quer mudar. Aqui, junto com o
autoconhecimento, entra o planejamento de carreira. Ao lado de cada
intenção de mudança, crie uma coluna para o “como”, tentando descrever o
que você precisa fazer para iniciar o processo de mudança (exemplo: se
quer deixar de lado as tarefas burocráticas da sua posição, você pode:
(a) tornar isso oficial junto ao seu chefe ou RH da empresa e se
candidatar a uma nova função; (b) fazer uma pós que poderá gerar um
upgrade profissional, e assim por diante).
Só que não adianta nada começar a planejar as mudanças se você não
sabe para onde quer ir. É preciso estabelecer um objetivo de médio
prazo. Aonde você quer chegar em 3 a 5 anos na sua carreira? Um
exercício muito interessante, que pode preceder o estabelecimento dos
objetivos, é a avaliação do grau de satisfação com sua posição atual, na
perspectiva de 5 anos atrás. Ou seja, se voltássemos a 2007 e você
fosse planejar sua carreira para dali a 5 anos, você colocaria seu
status atual de trabalho e carreira como um objetivo a ser perseguido?
Se não, o que poderia ter feito de diferente? A partir desta primeira
parte, comece a delinear mais claramente onde quer estar em 2017, quais
seus objetivos, o que precisa mudar e o que precisa fazer para colocar
seu plano de ação em prática.
Outro ponto que me assusta é a falta de disciplina que as pessoas tem
com sua vida pessoal e carreira. Isso diz respeito ao equilíbrio entre
trabalho e stress, entre vida profissional e pessoal, entre situação
atual e planejamento de carreira. Acredito que se colocarmos algo como
20% ou 1/5 de nosso foco e disciplina profissional na vida pessoal, no
planejamento de carreira, certamente teremos mais chance de sucesso e
felicidade. Um bom exercício para o plano de ação, e que tem ligação com
a questão da disciplina, é o do SWOT pessoal. SWOT, como se sabe, vem
do inglês Strengths/Weaknesses/Opportunities/Threats (Pontos
Positivos/Pontos Negativos/Oportunidades/Ameaças). Os dois primeiros são
perspectivas internas e os dois últimos, externas. Fazemos isso para
produtos, serviços, análises de cenário e etc. Mas o exercício aqui é
colocar você e sua carreira como pontos centrais. De novo, por escrito,
de forma honesta e com iniciativa. Quais seus pontos positivos? E quais
os negativos? Estes dizem respeito ao seu aspecto interno, ou seja, você
como profissional. E na perspectiva externa, do cenário, do entorno,
quais as oportunidades e ameaças em sua carreira? Aqui entram os
aspectos ligados à equipe que você tem, à sua empresa, ao segmento onde
atua. A partir disso, o que você pode fazer para minimizar seus pontos
negativos e maximizar as oportunidades no ambiente externo? Tudo isso é
parte de planejamento de carreira. Para funcionar, tem que ser feito de
peito aberto, com rigor e vontade, com esmero analítico e registro, por
escrito, com a mesma disciplina e seriedade usadas para o trabalho.
A partir destes exercícios você terá uma boa análise sobre si mesmo,
seu status atual de carreira, para onde quer ir e como pode começar a se
mexer. Mais do que isso, terá um documento escrito, que poderá (e
deverá) ser reavaliado constantemente, ao menos uma vez a cada 3 meses.
Pois da mesma forma que aplicamos reavaliações periódicas aos planos de
ação do trabalho, devemos medir o nosso progresso e eficiência
relacionados ao planejamento de carreira. Se você traça um objetivo para
daqui a 3 anos, isso significa fazer por volta de 12 reavaliações (uma a
cada trimestre), com atualizações e sintonia fina do plano original.
Como escrevi no início, trata-se de um tripé de grande valor para o
planejamento de carreira: iniciativa/autoconhecimento e disciplina. Algo
que não é usual para muitos profissionais, tampouco fácil de ser posto
em prática. Você pode fazer isso sozinho, ou com o auxílio de um
profissional especializado, um coach. Mas não deixe de fazer. Os benefícios são certos.
Não espere ser chamado por um headhunter (caçador de
cabeças, na tradução literal) para mudar seu destino, rever sua
satisfação no trabalho atual ou renegociar sua posição na empresa atual.
Aja agora, proativamente. Seja seu próprio fatehunter (caçador de destino).
Você deve achar o melhor em si mesmo e trazê-lo à tona.
Isto é o que lhe é dado – uma vida para viver.
Marx nos ensina a culpar a sociedade por nossas fragilidades;
Freud nos ensina a culpar nossos pais por nossas fragilidades;
A astrologia nos ensina a culpar o universo.
O único lugar onde podemos procurar a culpa é no interior: você
não teve a coragem de revelar sua lua cheia e viver a vida que era o seu
potencial.
Joseph Campbell
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